Tenho acompanhado
bem de longe a história de uma moça que tem lutado contra um grave
e pernicioso câncer. É muito improvável, humanamente falando, que
haja alguma solução médica para o sofrimento dela. A mãe da moça,
que sempre publica as atualizações e os pedidos de oração,
mencionou que houve um momento em que pediu que Deus abreviasse o
sofrimento de sua filha, dizendo que tinha “desistido da cura”.
Isso me pôs a
pensar, de novo, sobre nosso apego às pessoas que amamos e nossas
insistência em pensar que “cura” é remoção da doença para se
continuar vivendo neste mundo. E a cura não pode ser para viver no
próximo plano, aquele que foi preparado para os que buscam em Cristo
primeiro a cura para o espírito?
Não sou insensível
ao anseio dessa mãe. Eu também ansiava pela cura do meu pai nos
meus termos: que ele fosse curado para continuar aqui, sendo bênção
enquanto fisicamente presente. Porém, quando meu pai faleceu (um
pouco depois, na verdade), eu reconheci que ele fora, sim, curado, só
não do jeito que eu queria.
Curiosamente, o fato
de Deus não operar o milagre que eu desejava não fez com que Ele
fosse menos glorificado por minha família ou por todos que
conheceram meu pai. O primeiro sinal disso foi a conversão de sua
sobrinha-neta. Só por isso, meu pai diria que já tinha valido a
pena morrer.
Curiosamente também,
o fato de Deus levar meu pai para Si não fez com que menos pessoas
fossem abençoadas. Com tantos livros, textos, vídeos e áudios
circulando pelo ciberespaço, sem contar as memórias e anotações
daqueles que receberam seu ensino, é inevitável que meu pai
continue a ser bênção, mesmo sem residir mais nesta bolota de
terra. Creio até que a morte do meu pai tenha multiplicado o alcance
daquilo que Deus fazia por meio dele, agora que tantos dos seus
alunos e discípulos assumem semelhantes responsabilidades com mais
afinco.
Meu pai FOI curado,
e Deus FOI glorificado, mesmo que a cura não fosse a que eu pensava
ou desejava. Se pensarmos bem, quer nós peçamos para Deus abreviar
o sofrimento de nossos irmãos enfermos, quer peçamos que eles sejam
fisicamente restaurados, estamos orando para o Senhor efetuar uma
cura. Alguns são curados para a glória, outros para a terra.
Cura por cura, ambas
redundam em glória para Deus quando abrimos mão de nossos desejos e
conceitos, confiamos nEle e proclamamos Sua graça e Seu poder. Não
é só porque pedimos pelo fim do sofrimento que “desistimos da
cura”. Só pedimos por uma cura diferente. Não é só porque as
pessoas não veem um enfermo voltar das portas da morte que elas não
verão a glória de Deus. A glória de Deus também se reflete quando
há esperança e paz onde o mundo espera que haja desespero e rancor.
Não precisamos nos
recriminar por pedir que Deus abrevie o sofrimento de Seus filhos.
Isso não é falta de fé. Falta de fé é não acreditar que Ele
seja capaz de transformar até a morte dos Seus santos em bem para os
que permanecem. Precisamos aceitar que, aconteça o que acontecer,
caberá a nós, os que ficarmos, dar glória a Ele e anunciar Sua
graça, Sua soberania, Sua sabedoria e a salvação que Ele oferece.